A Mercedes-Benz possui uma história de mais de 60 anos no Brasil. E o início de tudo foi a fabrica da empresa em São Bernardo do Campo. Localizada no coração da Grande São Paulo e “engolida” pela civilização, a planta não tem mais para onde crescer. E este problema logo se tornou um desafio superado pela marca alemã. O remédio encontrava-se naquela que já foi a primeira fábrica de automóveis Mercedes-Benz fora da Alemanha.
A opção foi transformar a unidade de Juiz de Fora em uma planta para a montagem de caminhões. E não apenas qualquer caminhão. Além de migrar a fabricação do leve Accelo para a cidade mineira, o Actros, extrapesado com muita tecnologia embarcada da marca alemã, também passou a ser fabricado no Brasil na nova linha. “Quando tomamos a decisão de trazer as operações de São Bernardo do Campo, escolhemos o Accelo, pois a linha dele era mais simples de ser migrada”, explicou Ronald Linsmayer, vice-presidente e COO de caminhões da Mercedes no Brasil, em evento realizado nesta quinta-feira em Juiz de Fora. São 176.000 metros quadrados de área útil numa área total de 2.800.000 metros quadrados.
Linsmayer revela que, com a transferência do Accelo para Juiz de Fora, a planta de São Bernardo ganhou espaço em usinagem. Entretanto, o executivo nega que a Mercedes-Benz tenha planos de transferir todas as atividades para Minas Gerais. “Juiz de Fora deve ser entendida como uma extensão de São Bernardo. Se no futuro precisarmos de mais espaço lá, aí então iremos avaliar”, disse.
Fábrica de Juiz de Fora foi reformada para fabricar caminhões e se tornou uma das mais modernas do mundo
Mais moderna e bem equipada, a planta mineira possui uma capacidade de produção maior do que a fábrica de São Bernardo. A expectativa é que sejam fabricados 12 mil veículos (nove mil Accelo e três mil Actros) em Juiz de Fora no ano de 2012, mas esse número pode chegar a 50 mil unidades nos próximos anos, número ainda abaixo dos cerca de 80 mil caminhões e ônibus montados em 2011 na planta do ABC, que possui um quadro muito maior de funcionários. “A linha de Juiz de Fora tem uma eficiência produtiva maior que a planta de São Bernardo. Essa diferença diária é um número de dois dígitos”, afirmou Ronald Linsmayer, que não quis revelar o número em questão.
Testes de qualidade são feitos na própria linha de montagem, otimizando o processo
Fato é que em Juiz de Fora tudo foi pensado para ser melhor. Um trabalho de benchmarking definiu padrões adotados em linhas de todo o globo no que é relacionado especialmente à fabricação e à logística que deveriam ser trazidas para a cidade mineira. A linha possui conceitos como Kan-ban, Just-in-sequence, One-piece-flow e Lean Manufacturing (Produção Enxuta), que juntos dispensam a necessidade de estoque e anulam o desperdício ao longo do processo fabril.
A linha é tão versátil que os dois caminhões, de segmentos extremos (leve e extrapesado) são montados na mesma linha, que por sinal não existe fisicamente na forma de linha de arraste. No lugar é possível ver AGVs (Auto Guided Vehicles), veículos autoguiados que num primeiro momento podem parecer um brinquedo, mas são instrumentos de alta tecnologia que tornam a linha mais flexível e permitem, por exemplo, que esta siga funcionando plenamente mesmo em caso de problemas em alguma etapa. São 40 AGVs trabalhando na planta.
AGVs tornam linha de montagem mais flexível
Outra característica que amplia a produtividade é representada na forma de portais de qualidade. Os componentes instalados são testados na própria linha de montagem, em diversas etapas. Assim, qualquer falha pode ser prontamente corrigida pelos colaboradores.
Os investimentos nesta linha foram de cerca de 450 milhões de reais. Mesmo com um mercado em momento de transição do Euro 3 para o Euro 5, fato que prejudicou as vendas no primeiro trimestre de 2012, a Mercedes-Benz acredita no potencial da fábrica de Juiz de Fora. “Esta planta é uma preparação para o crescimento do mercado. Temos uma linha ótima para alcançarmos a liderança deste mercado”, disse em tom esperançoso Jürgen Ziegler, presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO para a América Latina.