O motor tem 456 cv, a transmissão, automatizada, possui 12 marchas para a frente e outras quatro para a ré. Além disso, esse Mercedes-Benz tem tanta tecnologia a bordo que é capaz de manter a distância para os veículos à frente e também nos avisar se estamos saindo da faixa de rolagem. E até conexão com a internet ele traz.
Se você pensou que estamos falando de um automóvel da “marca da estrela de três pontas”, como um Classe E ou um esportivo como o roadster SLK se enganou. É o Actros 2646 LS 6×4, o mais sofisticado caminhão vendido pela Mercedes-Benz no Brasil. Importado da Alemanha (mas com produção nacional prevista para 2012), o Actros 2646 LS é um extrapesado oferecido com três versões de cabine – Conforto (teto baixo), Megaspace Conforto e Megaspace Plus Segurança –, motor de 456 cavalos de potência, tração 6×4 e preços que vão de R$ 398.900 a R$ 464.600.
Se à primeira vista esses valores podem ser astronômicos, por outro lado a tecnologia incorporada ao 2646 LS também não parece ser deste planeta – e, em tese, justifica o investimento. Prova disso é que, de acordo com a marca, desde o seu lançamento no Brasil, em outubro do ano passado, já foram vendidas 586 unidades.
A versão Megaspace Segurança (completa) disponibilizada para esta reportagem oferece cabine com suspensão pneumática, assoalho plano e altura interna de 1,92 metro. Sob a cama, o motorista dispõe de dois compartimentos para objetos, além de um terceiro, refrigerado, para bebidas e alimentos. O ar-condicionado noturno, exclusivo do modelo, funciona com o motor do caminhão desligado e por até 8 horas.
O Actros 2646 LS é equipado com o mais poderoso propulsor da divisão de pesados da Mercedes-Benz por aqui, o seis cilindros verticais em V, com turbocooler e gerenciamento eletrônico, que gera, além dos já citados 456 cv (a 1.800 rpm), 224 kgfm de torque máximo (a 1.080 rpm). Com tamanha disposição, ele é capacitado para deslocar um Peso Bruto Total (PBT) de até 80 toneladas.
A caixa de mudanças automatizada PowerShift dispõe de 12 velocidades à frente (mais 4 à ré) e é programada para extrair sempre a maior eficiência do motor com o menor consumo de diesel. Além da eliminação do pedal de embreagem, o motorista pode optar pelas mudanças de forma automática ou manual – no segundo modo, por meio de uma pequena alavanca em fora de T, posicionada junto ao apoio de braço. Empurrando-a para frente, a marchas sobem; puxando-a para trás, elas são reduzidas.
Segundo Gilson Zinetti, Engenheiro da Área de Marketing de Produto, fora o conforto, a caixa automatizada traz muitas outras vantagens. “Como as trocas são feitas com maior precisão temos maior durabilidade do conjunto e menor custo de manutenção”, afirma. “As mudanças na rotação ideal também reduzem o consumo de combustível e, por fim, o câmbio automatizado diminui o tempo de treinamento dos motoristas e a influência das diferenças de habilidade deles nas médias de consumo e nos intervalos para manutenção.” A transmissão PowerShift ainda conta com um botão “Power” no painel que, acionado, eleva as trocas para rotações mais altas (e menos econômicas), permitindo respostas mais imediatas do motor, necessárias em uma ultrapassagem, por exemplo.
As suspensões traseiras do 2646 LS possuem quatro bolsas de ar em cada eixo, o que resulta em conforto na cabine, preservação da carga e maior estabilidade. O conjunto de freios utiliza discos em todas as rodas do cavalo, com equalização do desgaste das pastilhas, e é equipado com ABS (que impede o travamento das rodas) e ASR (que distribui a tração de acordo com a aderência em cada pneu).
Segurança espacial
Muito além dos airbags, de série, o pacote de opcionais de prevenção a acidentes do Actros 2646 apresenta alguns recursos inéditos no mercado nacional. O primeiro é o sistema de orientação de faixa de rolagem. Por meio de uma câmera posicionada no parabrisa, ele identifica a posição do caminhão em relação às sinalizações laterais no asfalto. Caso o veículo avance sobre uma delas, um sinal sonoro nos alto-falantes, à direita ou à esquerda, alerta o motorista para que corrija a trajetória.
O segundo é o controle de proximidade, que monitora o tráfego à frente, utilizando um radar instalado no parachoque. De acordo com a velocidade dos demais veículos e com a distância selecionada pelo motorista no comando do dispositivo, a unidade de controle adequa a velocidade do Actros às variações do trânsito, mantendo distância determinada e diminuindo o risco de colisões frontais.
Combinado a ele atua o sistema ativo de frenagem. Assim que o veículo começa a se deslocar, este dispositivo registra o peso do reboque e a distribuição da carga em cada eixo; quando o pedal de freio é acionado, ele identifica quando se trata de uma simples redução de velocidade ou de uma situação de emergência; conforme a circunstância, o sistema ativa o Top Brake (freio-motor no cabeçote), o freio-motor principal ou freios de serviço. Paralelamente, se detectar uma situação de risco, também por meio do radar no parachoque, ele ativa um alerta visual e sonoro; se o motorista não agir, em seguida o sistema faz uma leve intervenção nos freios; e, se o computador continuar interpretando o perigo, automaticamtente efetua uma freada de emergência, até que a velocidade caia para 20 km/h, reduzindo o risco de impacto ou suas consequências.
Finalmente, o bloqueio de deslocamento em rampa mantém o veículo parado por alguns segundos nessas situações, sem auxílio do freio, até que o motorista arranque com suavidade.
O Actros 2646 também dispõe do sistema de gerenciamento de frota FleetBoard, que utiliza um computador de bordo e a Internet para enviar para a empresa os parâmetros de desempenho do veículo durante a viagem. Dessa forma, o frotista fica sabendo como está sendo feita a condução do veículo, em tempo real, e pode enviar mensagens ao motorista, exibidas no visor do painel digital, para que, por exemplo, leve o veículo para uma revisão, em qualquer lugar do país.
Pé na estrada
Para a avaliação, o Actros 2646 foi acoplado a um bitrem, que elevou o comprimento do conjunto para 19,80 metros e o PBT para 57 toneladas.
No percurso entre o complexo Anchieta-Imigrantes e o rodoanel Mário Covas, em São Paulo, foi possível comprovar que, com toda essa tecnologia a seu favor, o trabalho do motorista fica restrito, quase que totalmente, a apenas movimentar o volante. Depois de programarmos no computador a velocidade máxima de 30 km/h e distância de 15 m, os 13 km da descida da Serra do Mar foram percorridos, praticamente, sem que o motorista de testes precisasse tocar no pedal do freio, exceto quando o trânsito parou por instantes. A cada aproximação com os caminhões à frente, o Actros fazia todas as reduções de velocidade e de marchas sozinho, de maneira muito suave e segura. Na parada para que o repórter assumisse a direção, a indicação que os freios de serviço muito pouco trabalharam foi o fato de as rodas estarem “geladas”.
Apesar das dimensões superlativas, o Actros 2646 é muito confortável, dócil e fácil de ser conduzido: basta selecionar a velocidade no piloto automático (a máxima do modelo é limitada eletronicamente a 120 km/h) e a distância que se quer do veículo da frente. A partir daí, é só cuidar da direção. A sensação de conduzir o extrapesado futurista da Mercedes-Benz (mesmo a 85 km/h, como no meu caso), é uma das experiências mais impressionantes – e até espetaculares – que se pode ter ao volante. Não tão distante assim dos luxuosos automóveis da marca alemã.
Fonte: Blog do Caminhoneiro